Em defesa da Trindade [ 1.13.20-21 ]

“Tenhamos o cuidado de aplicar-nos a esta questão com docilidade mais do que com sutileza, não inculcamos no espírito ou investigar a Deus em qualquer outra parte que não seja em sua Sagrada Palavra, ou a seu respeito pensar qualquer coisa, a não ser que sua Palavra lhe tome a dianteira, ou falar algo que não seja tomado dessa mesma Palavra.” (1.13.21, p.144)
Assim, é importante que tenhamos em mão mais uma declração doutrinária, para que possamos prosseguir. Já que trataremos das heresias, um bom resumo da ortodoxia nos será útil. Felizmente Calvino nos providencia uma, que nos servirá de guia nas seções posteriores. A citação é longa, porém necessária.
“Quando professamos crer em um só e único Deus, pelo termo Deus entende-se uma essência única e simples, em que compreendemos três pessoas sem especificação, designam-se não menos o Filho e o Espírito que o Pai; quando, porém, o Filho é associado ao Pai, então se interpõe a relação, e com isso fazemos distinção entre as pessoas.
Mas, uma vez que as propriedades específicas implicam de si uma gradação nas pessoas, de sorte que no Pai estejam o princípio e a origem, sempre que se faz menção, simultaneamente, do Pai e do Filho, ou do Espírito, se atribui ao Pai, de modo peculiar, o termo Deus. Desse modo retém-se a unidade de essência e tem-se em conta a ordem de gradação, o que, entretanto, nada detrai da divindade do Filho e do Espírito.” (1.13.20, p.142)
Que meditemos nessa breve definição, para que possamos identificar os erros e não sermos contaminados por eles.
Mais sobre as Três Pessoas [ 1.13.18-19 ]

“Ao Pai se atribui o princípio de ação, a fonte e manancial de todas as coisas; ao Filho, a sabedoria, o conselho e a própria dispensação na operação das coisas; mas ao Espírito se assinala o poder e a eficácia da ação.” (1.13.18, p.141)
Para aqueles que ainda têm dificuldades com o relacionamento entre as Pessoas e a Unidade de Deus, Calvino novamente se detém no assunto, ainda que reconheça a dificuldade da questão. Ainda assim, o reformador nos oferece uma boa explanação.
“Esta distinção está bem longe de contraditar a simplicíssima unidade de Deus, que se permita daí provar que o Filho é um só e único Deus com o Pai, porquanto, a um tempo, com ele compartilha de um só e único Espírito, mas o Espírito não é algo diverso do Pai e do Filho, visto ser ele o Espírito do Pai e do Filho.” (1.13.19, p.141)
O reformador também nos adverte a não pensarmos que alguma das Pessoas é menor que a outra, ou não possui as propriedades decorrentes da natureza divina. Ele menciona os pais da igreja, que sempre concordaram nesse assunto, destacando Santo Agostinho nessa seção.
“Cristo, em relação a si mesmo, é chamado Deus; em relação ao Pai, é chamado Filho… O Pai, em relação a si mesmo, é chamado Deus; em relação ao Filho, é chamado Pai. Quando se diz que Deus é Pai, em relação ao Filho, ele não é o Filho; quando se diz Filho, em relação ao Pai, ele não é o Pai; quando se diz que o Pai é Deus, em relação a si mesmo, e se diz que o Filho é Deus, em relação a si mesmo, ele é o mesmo Deus.” (citação de Da Trindade, 1.13.19, p.142)
Nosso relacionamento com Deus torna-se cada vez mais vivo quanto mais o conhecemos. Por isso, é bom que nos dedicarmos atentamente a esse estudo sobre o Deus Trino. Que saibamos reconhecer a majestade de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito.
FONTE: JOÃO CALVINO
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