Fomos presenteados com um exemplar do CD “Voz da
verdade” com três lindas músicas intituladas: “Imagem de
Deus”, “Tu me amas” e “Deus conosco”. O CD, gravado pelo
conjunto que leva o mesmo nome, está sendo distribuído
gratuitamente em todo o Brasil simplesmente porque o
referido grupo tem sido refutado nos meios pentecostais
por causa da doutrina unicista que defende. Assim,
acharam por bem contestar a doutrina da Trindade adotada
pela maioria das igrejas evangélicas. Paralelamente às
músicas selecionadas, o conjunto “Voz da verdade”
sustenta a doutrina unicista de Deus abordando os
seguintes temas: “O mistério de Deus: Cristo”, “O que
Deus diz de si mesmo?”, “Quem é Jesus?” e “O batismo nas
águas”.
O que diz o pregador
Quem se apresenta como defensor das doutrinas
características do unicismo é Carlos Alberto Moisés.
Como mesmo declara, ele pertence ao ministério “Voz da
verdade” e esclarece ainda que é guitarrista, cantor e
compositor do grupo em questão. Sua esposa, Liliane,
também cantora do grupo, o auxilia nessa defesa.
Análise do discurso
O referido CD inicia sua mensagem chamando a atenção dos
ouvintes ao exclamar: “Quem crê na Bíblia Sagrada? Esta
é a pergunta para você que nos está ouvindo. A Bíblia
Sagrada, um livro de 66 livros, de Gênesis a Apocalipse,
fala de uma única pessoa: Jesus Cristo”. E prossegue:
“Eu quero dizer que acredito na Bíblia Sagrada, e ela é
o único livro e regra de fé do nosso ministério” (grifo
nosso).
Ora, afirmar que a Bíblia é a sua norma de conduta não
quer dizer que os ensinos que esse pregador transmite e
pratica estão baseados nela. As testemunhas de Jeová
crêem na Bíblia, os adventistas também, mas seguem
outras fontes para guiar suas vidas. Que a Bíblia fala
de uma pessoa central, pois ela é cristocêntrica, não há
dúvida. Que há um só Deus e que o primeiro mandamento
proíbe a existência de outros deuses, nenhum cristão
ortodoxo nega isso. Agora, dizer que há uma só pessoa de
Gênesis a Apocalipse, isso não é bíblico. É heresia!
Exame do livro de Gênesis
Em Gênesis encontramos a palavra Elohim no primeiro
versículo da Bíblia. A tradução desse nome, escrito em
hebraico, é Deus, aparece 2.500 vezes nas Escrituras
Hebraicas (Velho Testamento) e deixa implícito uma
pluralidade de pessoas. Se traduzido literalmente, esse
versículo ficaria assim: “No princípio, criou deuses os
céus e a terra”. Entretanto, os judeus sempre foram
monoteístas, ou seja, sempre creram na unidade absoluta
de Deus. Como explicar então esse nome? Para vários
rabinos, seria plural de majestade. Todavia, para os
cristãos, desde a fundação da igreja, esse nome
evidencia pluralidade de pessoas e unidade de natureza
dessas pessoas.
Que outra maneira haveria de explicar o emprego dessa
palavra senão para indicar a pluralidade de pessoas
neste único Deus? É importante ainda saber que existe
outra palavra em hebraico para que possamos nos referir
a Deus de modo singular: Eloah. O uso da palavra Elohim,
com referência a Deus, é uma evidência da doutrina da
Trindade, e essa questão se torna ainda mais acentuada
quando a concordância dos verbos e os pronomes ocorrem
no plural. Exemplos:
1. Gênesis 1.26: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança” (grifo nosso).
Nota: O uso do verbo “façamos” e do pronome possessivo
“nossa” é revelador porque Elohim serve para indicar a
pluralidade de pessoas.
2. Gênesis 3.22: “Então, disse o Senhor: Eis que o homem
é como um de nós...” (grifo nosso).
Nota: O uso pronominal da primeira pessoa do plural do
caso reto “nós” indica pluralidade de pessoas.
3. Gênesis 11.7: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua
língua...” (grifo nosso).
Nota: Os verbos “desçamos” e “confundamos” na primeira
pessoa do plural indicam pluralidade de pessoas.
Exame do livro de Apocalipse
Assim como Jesus não é a única pessoa da Trindade
tratada em Gênesis, da mesma forma em Apocalipse, o
último livro da Bíblia, temos o Senhor Jesus de modo
proeminente, mas isso não significa que Ele seja a única
pessoa de que trata o livro. Encontramos Cristo, junto
ao Pai, recebendo adoração de todos os anjos do céu: “E
olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e
dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões
de milhões, e milhares de milhares, que com grande voz
diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber
poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e
glória, e ações de graças. Então ouvi a toda criatura
que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que
está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao
que está assentado sobre o trono (Deus, o Pai), e ao
Cordeiro (Jesus Cristo, o Filho), sejam dadas ações de
graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”
(Ap 5.11-13 – grifo nosso).
Podemos, ainda, citar uma referência à pessoa do
Espírito Santo: “E do trono saíam relâmpagos, e trovões,
e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo,
as quais são os sete espíritos de Deus” (Ap 4.5 - grifo
nosso).
Devemos observar que a expressão em destaque está-se
referindo à plenitude de operações do Espírito Santo em
conexão com as palavras do profeta Isaías: “E repousará
sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria
e de entendimento, o espírito de conselho e de
fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do
Senhor” (Is 11.2).
Assim, fica evidente de que não há base bíblica para
sustentar a declaração do senhor Carlos Moisés de que a
Bíblia “de Gênesis a Apocalipse está falando de uma
única pessoa: Jesus Cristo...”. E, considerando a
declaração de Gênesis 1.2, que diz: “...e o Espírito de
Deus se movia sobre a face das águas”, concluímos que
temos sim as três pessoas da Trindade, muito embora o
senhor Carlos Moisés discorde.
Dessa forma, as referências bíblicas citadas, como, por
exemplo, Is 1.18, 40.13, 42.8, 43.11-12, 44.6, 25,
45.5-6, 22 e 45.23, não contradizem o nosso modo de
interpretar a Bíblia. Somos monoteístas. Entendemos,
porém, que esse Deus único revelou-se em três pessoas
distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não somos
triteístas, como é alegado no referido CD.
Pode-se crer na Trindade?
Utilizando-se do mesmo raciocínio das testemunhas de
Jeová, o senhor Carlos Moíses diz: “Onde estaria a
palavra trindade aí? Não existe na Bíblia Sagrada,
porque a Bíblia diz que Deus é um...”. E continua em seu
discurso: “Ele diz eu sou. É por isso que não existe uma
trindade. Faço uma pergunta: onde está a trindade, três
pessoas em uma só?... Quem que está falando da
trindade... Quero dizer para você que não existe essa
palavra na Bíblia Sagrada. Quero dizer que não há
trindade na Bíblia, não há três deuses, não há três
pessoas em uma só... Vou mostrar alguns erros da
trindade biblicamente. Nós cremos na manifestação tripla
de um mesmo Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, mas
não de três pessoas, nem de três deuses, mas de um Deus
só que se manifestou nessas três formas” (o grifo é
nosso).
Negar a unidade composta de Deus simplesmente porque a
palavra “trindade” não se encontra na Bíblia não é
nenhum método científico de pesquisa. Pensemos um pouco:
Quem existiu primeiro, as estrelas ou a astronomia, as
plantas ou a botânica, a vida ou a biologia, Deus ou a
teologia?. Todavia, os homens, em sua ignorância,
conceberam idéias supersticiosas acerca das estrelas. O
resultado foi a pseudociência da astrologia. Conceberam
idéias falsas sobre as plantas, atribuindo-lhes poderes
que não possuíam. Então, o que aconteceu? Passou a
existir a feitiçaria. O ápice desses erros foi a
cegueira espiritual dos homens que os levou a formar
conceitos errados sobre Deus e, por conta disso, veio o
paganismo.
Será que o argumento do senhor Carlos Moisés pode provar
que a Trindade não é uma doutrina bíblica? Claro que
não. Embora a palavra “trindade” não apareça na Bíblia,
o ensino dessa doutrina, porém, que comprova a
existência de três pessoas distintas em uma só
divindade, está implícito na Santa Escritura.
A doutrina da Trindade não é antibíblica e deve ser
aceita. Nos tempos antigos, esse ensino enfrentou
severos ataques, o que forçou a igreja a definir com
exatidão sua fé na Trindade. Esse erro que ressuscita
hoje era conhecido como sabelianismo, doutrina esta que
ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram
apenas aspectos ou manifestações de Deus. A Bíblia nos
ensina que o Pai é Deus, que o Filho é Deus e que o
Espírito Santo é Deus, e isso não é triteísmo (triunidade)
nem unicismo (mesma pessoa), mas santíssima Trindade.
Rejeitar essa verdade é aceitar o politeísmo.
O senhor Carlos Moisés cita ainda a palavra “Bíblia” e
declara que nela não existe a doutrina da Trindade. Uma
pergunta: “Onde se encontra nas Escrituras a palavra
Bíblia?”. Em nenhum lugar. Então, como ele afirma crer
na Bíblia? Seguindo o seu raciocínio, vejamos a sua
alegação: “Nós cremos na manifestação de pessoas... de
Gênesis a Apocalipse, está falando de uma única pessoa:
Jesus Cristo”.
Outra pergunta: Onde aparece na Bíblia a expressão
“manifestação tripla”?. O senhor Carlos Moisés declara
ainda que Deus se manifestou de “três formas”. Mas onde
aparece na Bíblia a expressão em que Deus declara haver
se manifestado de “três formas”? E, por fim, onde lemos
na Bíblia: “Nós cremos na manifestação tripla de um
mesmo Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, mas não de
três pessoas, nem de três deuses”?.
Na verdade, ele crê “na manifestação tripla de um mesmo
Deus como Pai, Filho e Espírito Santo” e que as palavras
“Pai”, “Filho” e “Espírito Santo” se referem, não a três
pessoas, mas, sim, a três “manifestações” de uma só
Pessoa, cujo nome é Jesus. Assim, Jesus seria o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. Aqui convém observar um solene
aviso bíblico, exposto pelo apóstolo João: “Quem é o
mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?
Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o
Filho” (1Jo 2.22).
Qual é a origem desse ensino herético? Certamente não se
originou com o ministério “Voz da verdade”, que integra
um grupo de igrejas tidas como pentecostais unicistas ou
modalistas, junto com a igreja Tabernáculo da Fé, de
Willian Marrion Braham, e a igreja Local, de Witness
Lee.
Sabélio, um caso bem antigo
Sabélio é o mais famoso representante do modalismo. Ele
viveu em 230 d.C e foi um ardente defensor dessa
doutrina, além de refiná-la. Para ele, Deus assumira
três fases ou manifestações, mas não três pessoas. A
doutrina sabeliana acabou desenvolvendo o
patripassionismo, ensino que asseverava que os
sofrimentos de Deus Filho recaía necessariamente sobre o
Deus Pai. Sabélio usava a palavra “pessoa” para cada
Pessoa da divindade. Mas, para ele, pessoa tinha o
sentido de máscara ou de manifestações diferentes de uma
mesma Pessoa divina. O Pai, o Filho e o Espírito Santo
são nomes de três estágios ou fases diferentes. Deus era
o Pai na criação e na promulgação da lei, Filho na
encarnação e Espírito Santo na regeneração.
História do unicismo moderno
Essa doutrina surgiu em uma reunião pentecostal das
igrejas Assembléias de Deus realizada em abril de 1913,
em Arroyo Seco, nos arredores de Los Angeles,
Califórnia, em uma cerimônia de batismo. O preletor,
R.E. McAlister, disse que os apóstolos batizavam em nome
do Senhor Jesus, e não em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Ao ouvirem isso, as pessoas ficaram
atônitas.
McAlister foi notificado de que seu ensino possuía
elementos heréticos. Então, tentou esclarecer sua
prédica, mas seu ensino já havia produzido efeito. Um
dos ouvintes era John Sheppe que, após aquela mensagem,
passou uma noite em oração, refletindo sobre a mensagem
de McAlister. Depois disso, concluiu que Deus havia
revelado o batismo verdadeiro: somente em nome de Jesus.
O australiano Franck J. Ewart também adotou essa
doutrina e, em 15 de abril de 1914, levantou uma tenda
em Belvedere, ainda nos arredores de Los Angeles, onde
passou a pregar sobre a fórmula batismal de Atos 2.38.
Comparando a passagem de Atos 2.38 com Mateus 28.19, ele
chegou à conclusão de que o nome de Deus seria o nome
Jesus.
Um expoente dessa doutrina
Seguindo essa mesma linha de ra-ciocínio, o cantor e
compositor do conjunto “Voz da verdade” afirma: “Quem é
Jesus? Eis a questão. A Bíblia diz: no princípio era o
verbo, ele estava com Deus, e o verbo era Deus. O verbo
é Jesus. Ele era e é! A Bíblia diz: o verbo se fez carne
e habitou entre nós, então Deus se fez carne e habitou
entre nós...”.
A Bíblia não declara que Deus (o Pai) se fez carne. Diz
que “o Verbo era Deus” (Jo 1.1) e: “o Verbo (não o Pai)
se fez carne, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai, cheio de graça e de Deus” (v. 14).
Para esclarecer melhor a distinção de pessoas na
divindade, lemos: “Ele (o Filho) estava com Deus (o
Pai)”. O versículo 14 indica: “E o Verbo (não o Pai) se
fez carne, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito (monogenes – único da espécie) do Pai, cheio
de graça e de verdade”. Corroborando com essa posição, o
mesmo escritor declara, em 1 João 4.2: “Todo o espírito
que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”.
O texto é específico ao falar que Jesus Cristo foi que
veio em carne. Um dos textos bíblicos que declaram que o
Filho (Jesus) foi enviado por Deus, o Pai, é Gálatas
4.4: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu
Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.
Jesus, o Filho, foi enviado. Deus, o Pai, foi quem
enviou. Aqui temos duas Pessoas distintas.
Jesus seria o Espírito Santo?
Depois de afirmar que Jesus é o próprio Pai, o senhor
Carlos Moisés segue em sua exposição dizendo: “Eu quero
provar que Jesus é o Espírito Santo e falar mais para
vocês: será que o Espírito Santo tem sangue?”.
Utilizando-se do livro de Atos 20.28, que diz: “Olhai,
pois, por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito vos constituiu bispos, para apascentardes a
igreja de Deus, a qual ele resgatou com seu próprio
sangue”, ele declara: “Para quem sabe português, o texto
está dizendo que o Espírito Santo nos resgatou com seu
próprio sangue: quem morreu por você, meu amigo? Quem
verteu o sangue por você a não ser Jesus Cristo, que
morreu pelos nossos pecados?”.
Mas, onde se lê na Bíblia que o Espírito Santo é o
próprio Jesus? Depois da ressurreição, o Senhor Jesus
apareceu a seus discípulos e disse: “Vede as minhas mãos
e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois
um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu
tenho” (Lc 24.39). Como poderíamos contrariar as
palavras de nosso Mestre, que afirmou que um “espírito
não tem carne nem ossos”. Seria coerente afirmar que o
Espírito Santo tem sangue? Essa interpretação é um texto
fora do contexto que gerou um pretexto.
Jesus referiu-se ao Espírito Santo como “outro
Consolador” (Jo 14.16). A palavra “outro” utilizada aqui
no original grego é allos, que significa “outro da mesma
espécie, da mesma natureza, da mesma qualidade”. No
grego, a palavra para consolador é parakletos, que quer
dizer “ajudador”, “alguém chamado para auxiliar”, “um
advogado”. Com isso, Jesus estava afirmando que iria
para junto do Pai, mas permaneceria auxiliando o seu
povo por intermédio do Espírito Santo.
Como podemos ver, o Espírito Santo seria enviado em nome
de Jesus, e não que Ele seria o próprio Jesus. Onde está
escrito na Bíblia que o Espírito Santo é o próprio
Jesus? Por outro lado, Atos 20.28 não está falando “que
o Espírito Santo nos resgatou com seu próprio sangue”.
Antes, afirma, e faz isso com clareza, que quem derramou
seu sangue para a nossa redenção foi Jesus Cristo,
conforme relata o seguinte texto sagrado: “E da parte de
Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito
dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele
que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos
pecados” (Ap 1.5).
Ora, se foi necessário que Jesus, já glorificado,
voltasse ao Pai a fim de que o Espírito Santo viesse,
como realmente aconteceu no dia de Pentecostes, como
afirmar que Jesus é o Espírito Santo? O próprio Jesus
disse: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de
água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do
Espírito que haviam de receber os que nele cressem;
porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda
Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7.38,39).
Pessoas ou títulos?
Quanto a essa questão, o senhor Carlos Moisés assevera:
“Você sabe que por duas ou três testemunhas é confirmada
a palavra. Não há na Bíblia uma pessoa batizada nos
títulos: Pai, Filho, Espírito Santo. Todas são batizadas
em nome de Jesus, e é esse que você tem de receber, é o
nome do teu noivo”.
Ora, quem não sabe que biblicamente a colação de que por
duas ou três testemunhas é confirmada toda a palavra é
correta? Entretanto, o senhor Carlos Moisés fala que
Pai, Filho e Espírito Santo são apenas títulos. De fato,
uma pessoa pode ter mais de um título, mas isso não
significa que esses títulos sejam pessoas. Testemunhas
são pessoas, não títulos. Vejamos alguns versículos:
* “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é
verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o
testemunho que ele dá de mim é verdadeiro” (Jo 5.31-32 –
grifo nosso).
* “Mas se na verdade julgo, o meu juízo é verdadeiro,
porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou. E na
vossa lei está também escrito que o testemunho de dois
homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim
mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo
8.16-18 – grifo nosso).
Porventura não são duas pes-soas que dão testemunho para
que esse testemunho seja válido? O Pai testifica de
Jesus. Conseqüentemente, são duas testemunhas ou duas
pessoas, e não dois títulos.
Pela autoridade o nome de Jesus
Tomando por base o texto de Mateus 28.19, que diz:
“Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo”, o senhor Carlos Moisés interpreta que Jesus “não
mandou repetir as palavras Pai, Filho e Espírito Santo,
mas disse em nome...”.
Depois de citar passagens de Atos 2.38, 8.16, 10.48 e
19.5, o senhor Carlos Moisés fala que o batismo deve ser
realizado somente em nome de Jesus, e não na fórmula de
Mateus 28.19: “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo”. Perguntamos, então: um “nome” (singular) pode
ser usado para mais de uma pessoa? É certo que sim!
Basta lermos Gênesis 11.4: “E disseram: Eia, edifiquemos
nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e
façamo-nos um nome (singular) para que não sejamos mais
espalhados sobre a face de toda a terra”.
Ao observarmos a expressão “façamo-nos um nome”,
encontramos um verbo no plural, indicando mais de uma
pessoa, seguido pelo substantivo “nome” no singular, que
também indica mais de uma pessoa. Semelhante ocorrência
se dá em Mateus 28.19, quando um nome está indicando
igualdade de natureza divina para as três pessoas: Pai,
Filho e Espírito Santo.
Por fim, perguntamos ao ministério “Voz da verdade”: de
qual referência se vale para a realização dos batismos,
considerando que os textos citados abaixo não são
uniformes? Confira:
*Atos 2.38: “...seja batizado em nome de Jesus
Cristo...”
*Atos 8.16: “em nome do Senhor Jesus (omitido o nome
Cristo)
*Atos 10.48: “...em nome do Senhor...” (omitido o nome
Jesus Cristo)
*Atos 19.5: “E os que ouviram foram batizados em do
Senhor Jesus” (omitido Cristo).
Perguntamos ainda: qual das expressões acima é adotada
pelo ministério “Voz da verdade”?. A fórmula batismal é
inalterável?
O próprio batismo de Jesus nas águas do rio Jordão é uma
resposta categórica de que Mateus 28.19 revela a
existência de três pessoas, e não de três títulos, como
aponta o líder unicista.
Analisemos o texto:
“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que
se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus,
descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz
dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo” (Mt 3.16-17).
Primeiramente, temos Jesus saindo das águas. Depois, o
Espírito Santo descendo sobre Ele em forma corpórea de
uma pomba. E, por último, temos a voz do Pai,
dirigindo-se a Jesus e chamando-o de “Filho amado”.
Surgem, então, indagações inevitáveis: Quem falava do
céu? Quem ouvia aqui na terra a voz daquele que falava
do céu? Quem desceu sobre Jesus em forma corpórea de uma
pomba?
Diante do exposto, fica claro que os textos de Atos que
não mencionam as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito
Santo referem-se à idéia de “pela autoridade de Jesus”,
como se lê em Atos 3.16 e 16.18, em que a autoridade de
Jesus é invocada, procedimento ratificado pelos pais da
igreja primitiva, conforme veremos a seguir.
A patrística
“Eu fui numa biblioteca metodista e encontrei alguns
argumentos... Até o ano 300 se acreditava que Jesus era
o único Deus e só se batizava em nome de Jesus. Vieram
os filósofos, Ário e outros, e começaram a filosofar em
nome de Jesus dizendo: Ele é muito pra ele ser Deus...
aí veio o Concílio de Nicéia, no ano 325, o primeiro
Concílio, e acharam que o Pai era uma pessoa e o Filho
outra... Eram dois” (grifo nosso).
Interessante. Ir a uma biblioteca e encontrar alguns
livros não quer dizer que este seria o pensamento
corrente dos pais apostólicos, principalmente quando não
se faz citação da fonte. O compositor Carlos Moisés pode
ter ido a uma biblioteca Metodista, mas não deve ter
feito uma pesquisa científica. Se o fizesse, encontraria
os chamados pais da igreja batizando na fórmula
trinitariana. Citaremos alguns desses patriarcas para
desfazer esta falácia.
IRINEU, cristão cerca do ano 190 A D. declarou:
“Temos recebido o batismo... em nome de Deus, o Pai, em
nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou e
que morreu e ressuscitou de novo, e em nome do Espírito
Santo de Deus”.1
O DIDAQUÊ ou Ensino dos Doze apóstolos, que apareceu
cerca do ano 110 a.D, declara:
“Agora concernente ao batismo, batizai da forma: depois
de dar ensinamentos primeiramente de todas as coisas,
batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo...
O bispo ou presbítero, deve batizar desta maneira,
conforme nos mandou o Senhor, dizendo: ‘Ide fazei
discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo”.2
JUSTINO MÁRTIR, escrevendo cerca do ano 165 A D., disse:
“São trazidos (os novos convertidos) a um lugar onde
existe água e recebem de nós o batismo em água, em nome
do Pai, Senhor de todo o universo, e de nosso Salvador
Jesus Cristo e do Espírito Santo”.3
Uma pergunta fatal: A quem foi paga a nossa redenção?
A quem Cristo pagou o resgate?
Se a doutrina ortodoxa da Trindade for negada (não há
distinção entre as Pessoas da Deidade, conforme quer o
modalismo), Cristo teria pago o resgate ou à raça humana
ou a Satanás. Posto que a humanidade está morta em
transgressões e em pecados (Ef 2.1), nenhum ser humano
teria o direito de exigir que Cristo lhe pagasse
resgate. Sobraria, portanto, Satanás. Nós, porém, nada
devemos a Satanás. E a idéia de Satanás exigir resgate
pela humanidade é blasfêmia, por causa das implicações.
Pelo contrário. O resgate foi pago ao Deus Trino e Uno
para satisfazer as plenas reivindicações da justiça
divina contra o pecador caído. As Escrituras exigem:
“andai em amor, como também Cristo vos amou, e se
entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a
Deus, em cheiro suave” (Ef 5.2).
Embora mereçamos o castigo decorrente da justiça de Deus
(Rm 6.23), somos, porém, justificados pela graça
mediante a fé em Jesus Cristo, somente. “É o que alguns
tem sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido
santificados, mas haveis sido justificados em nome do
Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co
6.11).
Fica claro que a doutrina essencial da expiação vicária,
na qual Cristo carregou os nossos pecados na sua morte,
depende do conceito trinitariano. “O unicismo subverte o
conceito bíblico da morte penal e vicária de Cristo como
satisfação da justiça de Deus e, em última análise,
anula a obra da cruz”4 (grifo nosso).
Autor :
Natanael Rinaldi
Notas:
1 Citado por J. N. Kelly, Early Christian Doctrines – N.
Y. Harper Row, 1958, p. 193.
2 Citado por Luisa Jeter Walker, no livro “Qual o
caminho?”. Miami, Editorial Vida, 1980, p. 277.
3 Citado por Luisa Jeter Walker, no livro “Qual o
caminho?” .Miami, Editorial Vida, 1980, p. 277.
4 Teologia Sistemática. CPAD, 1ª Edição, 1996, p. 280.
Antony_Carlos (Twitter)
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