DEFESA DA FE.


sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"Ainda este ano": Um Breve sermão para o Ano Novo (INÉDITO, C.H.Spurgeon)

No. 1415A


Um sermão pregado 
pelo adoentado
Charles Haddon Spurgeon


"...deixa-a ainda este ano" Lucas13:8 (ARA)


No inicio de outro ano, e no começo de outro volume de sermões, desejamos com toda sinceridade expressar uma palavra de exortação: mas, ah, nesse momento, o pregador é um prisioneiro, e deve falar da sua cama em vez de fazer-lo desde seu púlpito. Não permitam que as poucas palavras que um homem enfermo possa expressar lhes cheguem com um diminuto poder, pois o fuzil disparado por um soldado ferido dispara a bala com a mesma força. Nosso desejo é falar com palavras vivas, ou não falar nada. Suplicamos ao Senhor que nos habilite para sentarmos e compor essas trêmulas frases, que as vistas com Seu Espírito, para que sejam frases que vão de acordo com Sua própria mente.

O vinhateiro intercessor suplicou pela figueira estéril: "deixa-a ainda este ano," pedindo o prazo de um ano, por assim dizer, a partir do momento em que falou isso. As árvores e as plantas que dão fruto têm uma medida natural para suas vidas – evidentemente, um ano tinha transcorrido quando chegou o tempo de buscar fruto na figueira, e outro ano começava quando o vinhateiro começou de novo sua obra de cavar e podar.

Os homens são seres tão estéreis, que sua produção de frutos não marca épocas certas, e se faz necessário estabelecer para eles divisões artificiais de tempo – não parece que havia tido um período definido para colheita ou para a vindima espirituais, ou se tivesse, os feixes e os cachos não brotam na sua estação, e por isso, temos que dizer uns dos outros: "esse será pó começo de um novo ano."

Então, que assim seja. Congratulemos-nos uns aos outros por ver a alvorada de "ainda esse ano", e oremos juntos para que possamos entrar nele, e continuar nele, e chegar a sua conclusão, debaixo da perene benção do Senhor a quem pertence todos os anos.

I. O começo de um ano novo SUGERE UMA RETROSPECTIVA. Olhemos resoluta e honestamente. "Ainda este ano" – então houve anos anteriores de graça. O vinhador não estava consciente pela primeira vez da falha da figueira, nem o dono da figueira tinha vindo pela primeira vez buscando figos em vão.

Deus, que nos dá "ainda esse ano", nos tem dado outros anos previamente. Sua paciente misericórdia não é uma novidade. Sua paciência já foi posta a aprova por nossas provocações. Primeiro, vieram nossos anos juvenis, quando, inclusive, um pequeno fruto para Deus é peculiarmente agradável a Ele. Como o passamos? Acumulou-se toda nossa força na casca silvestre e no cacho deixado como resto? Se for assim, bem podemos deplorar esse vigor desperdiçado, essa vida mal gasta, esse assombroso pecado multiplicado. Quem nos viu usar indevidamente daqueles meses de ouro da juventude, nos proporciona "ainda esse ano", e temos de entra nele com um santo zelo, para que a força e o ardor que nos sobraram não corram os mesmos caminhos de desperdício como em anos anteriores.

Seguindo os calcanhares de nossos anos juvenis, vieram os anos correspondentes a maturidade, quando começamos a forma um lar, e nos convertemos como uma árvore plantada em seu lugar – também ai o fruto teria sido precioso. Produzimos algum fruto? Presenteamos o Senhor com um cesta de frutos de verão: Oferecemos a Ele as primícias de nossa força? Se o fizemos assim, bem podemos adorar a graça que nos salvou, tão cedo – mas, se não foi assim, o passado nos repreende, e, levantando um dedo acusador, nos adverte que não permitamos que "ainda esse ano" siga o caminho do resto de nossas vidas.
Aquele que tiver desperdiçado a juventude e a manha da madures, dedicou tempo suficiente à insensatez – o tempo passado deveria lhe bastar para ter cumprido a vontade da carne: seria um excesso de iniquidade permitir que " ainda esse ano" seja espezinhado no serviço do pecado.

Muitos de nós nos encontramos na flor da idade, e os anos que já vivemos não são poucos. Ainda necessitamos confessar que nossos anos são comidos pelo gafanhoto e pelo pulgão? Acaso já tivemos que recorrer a algum centro de reabilitação, e ainda não sabemos aonde vamos? Somos ainda néscios a idade de quarenta anos? Temos cinquenta, de acordo ao calendário, no entanto, nos encontramos a grande distância do critério? Ai, grandioso Deus, que haja homens que passem essa idade e que ainda não tenham conhecimento! Não são salvos aos sessenta, não são regenerados aos setenta, não foram despertados aos oitenta, não são renovados aos noventas! Todas e cada uma dessas considerações são muito alarmantes. No entanto, porventura, cada uma cairá em ouvidos que não poderão deixar de formigar, ainda que as ouçam como se não as tivessem escutado. A continuidade no mal gera dureza de coração, e quando a alma esteve dormindo por largo tempo na indiferença, é difícil desperta-la do estupor mortal.

O som das palavras "ainda esse ano", nos faz lembrar, a alguns de nós, dos anos de grande misericórdia, brilhantes e resplandecentes de deleite. Esses anos foram colocados aos pés do Senhor? Foram comparáveis às campainhas de prata dos cavalos: foram de "Santidade a Jeová"? Se não foram, como responderemos por eles se "ainda esse ano" deveriam ser musicais com jubilosa misericórdia, e, no entanto, os desperdiçamos nos caminhos do abandono?

As mesmas palavras nos recordam, a alguns de nós, nossos anos de severa aflição, quando, verdadeiramente cavavam em nossa volta e nos adubavam. Como passaram esses anos? Deus estava fazendo grandes coisas para conosco, exercendo uma lavoura cuidadosa e custosa, cuidando de nós com um cuidado sumamente grande e sábio. Produzimos de acordo com o benefício recebido? Levantamos-nos da cama sendo mais pacientes e mansos, odiados do mundo, e unicamente unidos a Cristo? Produzimos cachos de fruto para recompensar o vinhador da vinha?

Não recosemos essas perguntas de auto-exame, pois poderá ser que isso resulte ser outro desses anos de cativeiro, outra estação de forno e de crisol. Que o Senhor nos conceda que a tribulação futura nos livre de mais palha que qualquer doutro desses anos anteriores, e deixe o trigo mais limpo e em melhores condições.

O novo ano também nos lembra das oportunidades de utilidade, que chegaram e se foram, e de resoluções não cumpridas, que floresceram só para murcharem – será "ainda esse ano" como esses que transcorreram antes? Não poderíamos esperar que a graça avançasse sobre a graça já ganha, e não deveríamos buscar poder para transformar nossas enfermas promessas em robusta ação?

Olhando o passado, lamentamos as sandices pela quais não queríamos ser mantidos voluntariamente cativos "ainda esse ano", e adoramos a misericórdia perdoadora, a providencia preservadora, a liberalidade ilimitada e o amor divino, dos quais esperamos ser participantes "ainda esse ano".

II. Se o pregador pudesse pensar com liberdade, poderia navegar no texto com prazer em muitas direções, porem, ele está debilitado, e por isso deve deixar-se ir com a corrente que leva a segunda consideração: o texto MENCIONA UMA MISERICORDIA. Foi devido a uma grande benignidade, que fosse permitido à arvore que inutilizava a terra, permanecer ainda outro ano, e a vida prolongada sempre há de ser considerada uma benção da misericórdia Veremos "ainda esse ano" como uma dádiva da graça infinita. É mal falar como se a vida não nos importasse, e considerar nossa estada aqui como um mal ou um castigo – estamos aqui "ainda esse ano" como resultado das intercessões do amor, e em cumprimento dos desígnios do amor.

O homem malvado deveria considerar que a paciência do Senhor aponta para sua salvação, e deveria permitir que as cordas de amor o atassem a ela. Oh, que o Espirito Santo fizera que o blasfemo, o quebrantador do dia do senhor, e o viciado ostentador sentissem que coisa admirável é que suas vidas sejam prolongadas "ainda esse ano"! Por acaso lhes é concedida vida para que amaldiçoem, e corram desenfreados e desafiem seu Criador? Esse deveria ser o único fruto da paciente misericórdia? Aquele que deixa as coisas para mais tarde e que tem deixado o mensageiro do céu com suas demoras e meias promessas, não deveria maravilhar-se de que lhe seja permitido ver "ainda esse ano"? Como é que o Senhor foi indulgente com ele, e há tolerado suas vaciladas e titubeios? Esse ano de graça será mal gasto da mesma forma? As impressões passageiras, as precipitadas resoluções e as prontas apostasias, terão de ser isso a mesma história trilhada que se repete uma e outra vez? A consciência assustada, a tirana paixão, a emoção reprimida! Serão esses aos sinais de "ainda esse ano"? Que Deus não queria que nenhum de nós duvide ou procrastine ao longo de "ainda esse ano".
A piedade infinita detém a lança da justiça – será ela insultada pela repetição dos pecados que provocaram que se levantasse o instrumento da ira? O que poderia ser mais atemorizante para o coração da bondade que a indecisão? Bem faz o profeta do Senhor se colocar impaciente e clamar: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? (1Reis 18:21) Deus pode muito bem exigir uma decisão e exigir uma resposta imediata.

Oh alma indecisa, oscilará muito tempo ainda entre o céu e o inferno, e atuará como se fosse difícil decidir entre a escravidão de Satanás e a liberdade do lar de amor do Grandioso Pai? "Ainda esse ano" se divertirá no desafio da justiça e perverterá a generosidade da misericórdia, convertendo ela em uma licença para uma maior rebelião? "Ainda esse ano" será o amor divino convertido em uma ocasião para um continuo pecado? Oh, não atue dessa forma vil, de maneira tão adversa a todo instinto nobre, de maneira tão injuriosa para seus próprios e melhores interesses.

O crente é conservado fora do céu "ainda esse ano" em amor, e não na ira. Existem alguns por cuja causa é necessário que habite na carne, alguns que serão ajudados por ele em seu caminho até o céu, e outros que serão conduzidos aos pés do Redentor por sua instrução. O céu de muitos santos ainda não está preparado para eles, porque seus companheiros mais próximos não chegaram ainda, e seus filhos espirituais não se reuniram na glória em número suficiente, pata dar-lhes uma completa bem-vinda celestial: terão de esperar "ainda esse ano" para que seu repouso seja mais glorioso, e para que os feixes que eles levarão com eles possam proporcionar-lhes um gozo maior.

Verdadeiramente, por causa das almas, pelo deleite de glorificar nosso Senhor, e pelo incremento de jóias de nossa coroa, podemos estar contentes de esperar aqui embaixo "ainda esse ano". Esse é um campo muito vasto, porem não pode demoramos nele, pois nosso espaço é reduzido, e nossa força é ainda menor.

III. Nossas últimas palavras frágeis lhes recordarão que a expressão "ainda esse ano" IMPLICA EM UM LÍMITE. O vinhador não pediu uma suspensão da sentença maior que um ano. Se labor de cavar e adubar não mostrassem então ser eficazes, não intercederia mais, e a arvore deveria cair.

Mesmo quando Jesus é o intercessor, a solicitação de misericórdia tem seus limites e seus tempos. Não é para sempre que seremos deixados sós, e que nos seja permitido inutilizar a terra – se não nos arrependermos, devemos perecer – se não queremos ser beneficiados pela enxada,d devemos cair pelo golpe do machado.

Virá um último ano a cada um de nós: portanto, que cada um diga a si mesmo: esse é meu último ano? Se fosse o último ano para o pregador, cingiria seus lombos para entregar a mensagem do Senhor com toda sua alma e pedir a seus semelhantes que sejam reconciliados com Deus.

Querido amigo, "ainda esse ano" será seu último ano? Está preparado para ver que a cortina se levantar revelando a eternidade? Está preparado para ouvir o grito da meia noite, e entrar na ceia das Bodas? O juízo e tudo o que se seguir são, de forma certíssima, a herança de todo homem. Benditos aqueles que pela fé em Jesus são capazes de enfrentar o tribunal de Deus sem pensamento de terror.

Se vivêssemos para ser contatos entre os habitantes mais velhos, ainda assim ao fim devemos partir: tem que haver um fim, e a voz deve ser ouvida: "Assim diz o Senhor, morreras esse não" Tantos se foram antes que nós, e cada hora estão voando, que ninguém deveria de nenhum outro memento mori (recorda que há de morrer), e , no entanto, o homem está tão interessado em esquecer sua própria mortalidade, e mediante isso, perder suas esperanças da bem aventurança, que não podemos colocar ela muito longe dos olhos de nossa mente. Oh homem mortal, reflita! Prepare-se para vir ao encontro de teu Deus – pois deves encontrar-se com Ele. Busque ao Salvador, sim, busque-lhe antes que outro sol se oculte para seu descanso.

Mais uma vez, "ainda esse ano" - e poderá ser só por esse ano – a cruz é levantada como um farol do mundo, a única luz à que nenhum olho mira em vão. Oh, que milhões de pessoas olhassem para esse local e vivessem. O Senhor pronto virá uma segunda vez, e então o resplendor de Seu trono ocupará o lugar do ligeiro esplendor de Sua cruz: o Juiz será visto no lugar do Redentor. Agora Ele salva, porem naquele momento Ele destruirá. Ouçamos Sua voz nesse momento. Ele tem posto um limite de graça. Creiamos em Jesus nesse dia, vendo que poderia ser nosso último dia. Essas são as súplicas de alguém que agora encosta-se a seu travesseiro, absorto na debilidade. Ouça-as por causa de suas próprias almas e vivam.

 
__________________
FONTE: www.spurgeon.com.mx
Tradução: Armando Marcos Pinto

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Declaração de fé

Sola Scriptura: Reafirmo a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado. Nego que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a conciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

Solus Christus: Afirmo que nossa salvação é realizada pela obra mediatória do Cristo Jesus. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai. Nego que o Evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

Sola Gratia: Reafirmo que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, libertando-nos da nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual. Nego que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicos ou estrategias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

Sola Fide: Reafirmo que a justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé e somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de cristo nos é imputado como único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus. Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós, ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene o princípio da sola fide possa ser reconhecida como igreja legitima.

Soli Deo Gloria: Reafirmo que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente. Nego que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entreterimento, se negligenciarmos o evangelho em nossa pregação, ou se permitimos que o afeiçoamento prório, a auto estima,e a auto realização se tornem opções alternativas para o evangelho.

domingo, 26 de dezembro de 2010

John Piper - O que Jesus quer do Natal?

O que Jesus quer neste Natal? Nós podemos ver a resposta em Suas orações. O que Ele pedia a Deus? A sua mais longa oração está em João 17. Vejamos o clímax do Seu desejo:



Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo (v.24)

Entre todos os pecadores indignos do mundo, existem aqueles que Deus “deu para Jesus.” Esses são aqueles que o Pai atraiu para o Filho (Jo 6:44,65). Esses são os Cristãos – pessoas que “receberam” Jesus como o crucificado e ressurreto Salvador e Senhor e Tesouro de suas vidas (Jo 1:12; 10:11,17-18; 20:28; 6:35; 3:17). Jesus disse que Ele quer que eles estejam com Ele.

Às vezes nós ouvimos as pessoas dizerem que Deus criou o homem porque ele estava solitário. Então eles dizem, “Deus nos criou para que nós estivéssemos com Ele.” Jesus concorda com isso? Bem, de fato Ele diz que Ele realmente queria que nós estivéssemos com Ele! Sim, mas por quê? Consideremos o resto do versículo. Por que Jesus queria que nós estivéssemos com Ele?


...para que vejam a minha glória que me [o Pai] deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.

Essa seria uma maneira estranha de expressar sua solidão. “Eu quero eles comigo para que eles possam ver a minha glória.” É certo que isso não expressa Sua solidão. Isso expressa Sua preocupação quanto à satisfação de nosso anseio, e não de Sua solidão. Jesus não é solitário. Ele e o Pai e o Espírito são profundamente satisfeitos na comunhão da Trindade. Nós, não eles, estamos famintos por algo. E o que Jesus deseja para o Natal é que nós experimentemos aquilo para a qual nós realmente fomos feitos – contemplar e experimentar [saborear] sua glória.

Óh, que Deus possa penetrar isso em nossas almas! Jesus nos fez (Jo 1:3) para vermos Sua glória. Um pouco antes de ir para a cruz Ele pede Seus mais profundos desejos ao Pai: “Pai, Eu desejo – Eu desejo! – que eles... possam estar comigo onde Eu estiver, para verem a minha glória.”

Mas isso é apenas a metade do que Jesus queria nesses finais e culminantes versos de Sua oração. Eu acabei de dizer que nós, de fato, fomos feitos para contemplar e experimentar Sua glória. Não era isso que Ele queria – que nós não apenas vejamos Sua glória, mas a experimentemos, nos satisfaçamos nela, nos deleitemos nela, façamos dela o nosso tesouro, e a amemos? Considere o verso 26, o último verso:


E eu lhes fiz conhecer o Teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.

Esse é o final da oração. Qual é o propósito final de Jesus para nós? Não que nós simplesmente vejamos Sua glória, mas que nós O amemos com o mesmo amor que o Pai tem por Ele: “para que o amor com que me [o Pai] tens amado esteja neles.” O anseio e propósito de Jesus é que nós vejamos Sua glória e então que nós sejamos capazes de amar o que vemos, com o mesmo amor que o Pai tem pelo Filho. E Ele não quer dizer que nós meramente imitemos o amor do Pai pelo Filho. Ele quer dizer que o próprio Amor do Pai se torne o nosso amor pelo Filho – que nós amemos o Filho com o amor do Pai pelo Filho. Isso é o que o Espírito se torna, e derrama em nossas vidas: Amor ao Filho pelo Pai através do Espírito.

O que Jesus mais quer para o Natal é que Seus eleitos estejam reunidos e então façam o que eles mais desejam – contemplar Sua glória e então experimentá-la com o mesmo gosto do Pai pelo Filho.

O que eu mais quero para o Natal esse ano é me juntar a você (e a muitos outros) em contemplar Cristo em toda Sua plenitude e que juntos, nós sejamos capazes de amar o que vemos, com um amor que vai muito além de nossa vaga capacidade humana.

Isso é o que Jesus pede por nós neste Natal: “Pai, mostre a eles a minha glória e dê-lhes o mesmo deleite em mim que Tu tens por mim.” Óh, que nós possamos ver Cristo com os olhos de Deus e experimentar Cristo com o coração de Deus. Essa é a essência do céu. Este é o presente que Cristo veio comprar para pecadores ao preço de Sua morte em nosso lugar.

Contemplando e Experimentando Ele com você,

Pastor John.



Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução: voltemosaoevangelho.com

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Encarnação e o Nascimento de Cristo ( Sermão de Natal, por C.H.Spurgeon)


LEIA ESSE SERMÃO EM BOOKESS
LEIA E BAIXE ESTE SERMÃO EM PDF EM SCRIBD


"E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." Miquéias 5:2

Essa é a época do ano quando, querendo ou não, estamos obrigados a pensar no nascimento de Cristo. Considero que é uma das coisas mais absurdas debaixo do céu pensar que existe religião quando se guarda o dia de Natal. Não há nenhuma probabilidade de que nosso Salvador Jesus Cristo tenha nascido nesse dia, e a observância dele é puramente de origem papal - sem dúvida os que são católicos tem o direito de reivindicar-lo - mas não posso entender como os protestantes consistentes podem ter-lo de alguma maneira como sagrado. No entanto, eu desejaria que houvesse dez ou doze dias de Natal ao ano – porque há suficiente trabalho no mundo e um pouco mais de descanso não faria mal ao povo trabalhador.

O dia de Natal é realmente uma benção para nós, particularmente porque nos congrega em redor da lareira de nossas casas e nos reunimos uma vez mais com nossos amigos. No entanto, ainda que não seguimos os passos de outras pessoas, não vejo dano algum em pensarmos na encarnação e no nascimento do Senhor Jesus. Não queremos ser classificados entre aqueles que:

"Colocam mais cuidado em guardar o dia de festa
De maneira incorreta
Que o cuidado que outros têm
para guardar-lo de maneira correta"

Os antigos puritanos faziam ostentação do trabalho no dia de Natal, só para mostrar que protestavam contra a observação desse dia. Mas nós cremos que protestavam tão radicalmente, que desejamos como descendentes seus aproveitar o bem acidental conferido há esse dia, e deixar que os supersticiosos sigam com suas superstições.

Vou de imediato ao ponto que tenho que comentar-lhes. Vemos, em primeiro lugar, quem foi o que enviou Cristo. Deus o Pai fala aqui, e diz: "de ti me sairá o que governará em Israel." Em segundo lugar, de onde veio no momento de Sua encarnação? Em terceiro lugar, para que veio"Para governar em Israel". Em quarto lugar, já tinha vindo antes? Sim, já o tinha feito. "cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade."
I. Então, em primeiro lugar, QUEM ENVIOU CRISTO? A resposta nos é dada pelas próprias palavras do texto: "De ti", diz o Senhor, falando pela boca de Miquéias, "de ti me sairá." É um doce pensamento que Jesus Cristo não veio sem a permissão, autoridade, consentimento e ajuda de seu Pai. Foi enviado pelo Pai para ser o Salvador dos homens. Ai! Estamos inclinados a esquecer que, se é certo que existe distinções enquanto às Pessoas da Trindade, não existe distinção no que toca a honra – e frequentemente atribuímos a honra de nossa salvação, ou pelo menos as profundidades de Sua misericórdia e o extremo de Sua benevolência, muito mais a Jesus Cristo do que ao Pai. Esse é um grande erro. Jesus veio? Por acaso o Pai não foi quem o enviou? E se foi convertido em um bebê, acaso não foi o Espírito Santo que o gerou? Se falou maravilhosamente, não teria sido o Pai que derramou graça em Seus lábios, para que fosse um capacitado ministro do novo pacto?

Se Seu Pai o abandonou quando tomou a amarga copa de fel, acaso não o amava? E depois de três dias, não Lhe levantou dos mortos e O recebeu no alto, levando cativo o cativeiro? Ah, amados irmãos, quem conhece ao Pai, o Filho, e o Espírito Santo como deveria conhecer-lhes, nunca coloca Um em detrimento do Outro – não está mais agradecido a Um do que com Outro – Vê a Eles todos em Belém, em Getsemani e no Calvário, Todos igualmente envolvidos na obra de salvação. "De ti me sairá." Oh cristãos, têm colocado sua segurança unicamente Nele? E, está unido a Ele? Então, deve crer que está unido ao Deus do céu – posto que vocês são irmãos do homem Cristo Jesus, e têm uma íntima relação com Ele, então, por essa razão, estão ligados ao Deus eterno, e "o Ancião de dias" é Pai e amigo de vocês. "De ti ME sairá"

Por acaso você nunca viu a profundidade do amor que havia no coração do Senhor, quando Deus Pai preparou Seu Filho para a grandiosa empreitada de misericórdia? No céu, houve um triste dia quando Satanás caiu, e levou consigo um terço das estrelas do céu, quando o Filho de Deus, lançado de Sua grandiosa destra dos trovões onipotentes, lançou o grupo rebelde ao fosso de perdição – porem, se pudéssemos conceber uma pena no céu, deve ter sido num dia mais triste quando o Filho do Altíssimo deixou o seio de Seu Pai, onde havia descansado desde antes de todos os mundos. "", disse o Pai, "com a benção de teu Pai sobre Tua cabeça!" Logo vem o despojar de seus vestidos. Como os anjos se reúnem em volta, para ver ao Filho de Deus tirar suas vestes! Colocou de um lado Sua coroa - disse "Pai, eu sou Senhor de tudo, bendito para sempre – porem, vou deixar minha coroa de lado, e serei como os homens mortais." Despoja-se de sua brilhante veste de glória – "Pai," diz "colocarei uma roupa de barro, da mesma que os homens usam." Logo, se despe de todas Suas jóias com as quais era glorificado – coloca de lado Seus mantos bordados de estrelas e suas túnicas de luz, para vestir-se com a simples roupa do campesino da Galiléia. Quão solene deve ter sido esse despojar! 

Em seguida, podem imaginar a separação? Os anjos servem ao Salvador ao largo das ruas, até que se aproximam das portas, quando um anjo exclama: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e sairá o Rei da Glória." Oh! Sou do parecer que os anjos devem ter chorado quando perderam a companhia de Jesus – quando o Sol do Céu lhes arrebatou toda Sua luz. Porem, o seguiram. Desceram com Ele – e quando Seu espírito entrou na carne, e se converteu em bebê, foi servido por esse poderoso exército angelical - esses que depois de terem estado com Ele no casebre de Belém, e depois de ver-lhe descansar no peito de Sua mãe, em seu caminho de volta ao alto, apareceram para os pastores e disseram para eles que tinha nascido o Rei dos judeus. O Pai o enviou! Contemplem esse tema. Suas almas devem se agarrar nesse ponto, e em cada período de Sua vida pensem que Ele sofreu o que o Pai assim quis – que cada passo de Sua vida foi marcado com a aprovação do grandioso EU SOU. Cada pensamento que tenham sobre Jesus deve estar conectado com o Deus eterno, sempre bendito; pois "Ele," disse o Senhor, "ME sairá." Então, quem o enviou? A reposta: o Pai.

II. Agora, em segundo lugar, DE ONDE VEIO? Uma palavra ou duas relativas à Belém. Foi considerado bom e adequado que nosso Salvador nascesse em Belém, e isso devido à história dessa cidade, ao nome de Belém, e a posição de Belém: pequena em Judá

1) Em primeiro lugar, considerou-se que Cristo nascesse em Belém, devido à história de Belém. A pequena aldeia de Belém era muito querida para todo israelita. Jerusalém podia brilhar mais que ela em esplendor, pois ali estava o Templo, a glória de toda a terra, e "formosa província, o gozo de toda terra, é o Monte Sião" – no entanto, em torno de Belém aconteceu um número de incidentes que a converteram para sempre em um lugar agradável de descanso para mente de cada judeu. Até mesmo o cristão não pode deixar de amar Belém.

Creio que a primeira menção que temos de Belém é triste. Ali morreu Raquel. Se buscarem no capítulo 35 de Gênesis, encontrarão que o versículo 16 diz: 

Partiram de Betel; e havia ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, e deu à luz Raquel, e ela teve trabalho em seu parto. E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas, porque também este filho terás. E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim. Assim morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata; que é Belém. E Jacó pôs uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje. (Genesis 35:16-20)

Esse é um incidente singular: quase profético. Não teria podido Maria ter chamando a seu próprio filho Jesus de seu Benoni? Pois ele ia ser "o filho de minha dor."

Simão lhe disse: (E uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações. (Lucas 2:35) Mas, ainda que ela podia ter-lhe chamado Benoni, como Deus seu Pai o chamou? Benjamim, o filho de minha mão direita – Benjamim enquanto a Sua divindade. Esse pequeno incidente parece ser quase uma profecia que Benoni: Benjamim, o Senhor Jesus, devia nascer em Belém

Porem, outra mulher faz esse lugar celebre. O nome dessa mulher era Noemi. Ali em Belém, em dias posteriores, viveu essa mulher ,de nome Noemi, quando talvez a pedra que o amor de Jacó por Raquel tinha levantado já estivesse coberta pelo musgo e sua inscrição talvez já borrada pelo tempo. Ela também foi uma filha de gozo, mas também foi uma filha de amargura. Noemi foi uma mulher que o Senhor tinha amado e abençoado, mas ela teve que marchar a uma terra estranha; e ela disse: "Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso" (Rute 1:20) No entanto, ela não estava sozinha em meio de todas suas perdas, pois agarrou-se a ela Rute, a moabita, cujo sangue gentil devia se unir com a torrente pura e sem mancha do judeu, que devia gerar ao Senhor nosso Salvador, o grandioso Rei tanto dos judeus como dos gentios.

O belíssimo livro de Rute tinha todo seu cenário em Belém. Foi em Belém que Rute saiu a recolher espigas nos campos de Boaz; foi ali que Boaz a olhou, e lá que ela se prostrou em terra diante de seu senhor; foi ali que foi celebrado seu matrimonio, e nas ruas de Belém, Boaz e Rute receberam uma bênção que os fez frutíferos, de tal forma que Boaz converte-se no pai de Obede, e Obede pai de Jessé, e Jessé gerou a Davi. Esse último feito cinge Belém com glória: o fato de Davi ter nascido ali – o poderoso herói que matou ao gigante filisteu, que livrou aos descontentes de sua terra da tirania de seu monarca, que depois, com pleno consentimento de um povo que assim o queria, foi coroado rei de Israel e de Judá.

Belém era uma cidade real, porque reis foram gerados ali. Ainda que Belém fosse pequena, tinha muito para ser estimada – porque era como certos principados que temos na Europa, que não são celebrados por nada a não ser terem gerado consortes das famílias reais da Inglaterra. Era um direito, então, pela história, que Belém devia ser o lugar do nascimento de Cristo.

2) Mais adiante, existe algo no nome do lugar. "Belém Efrata." A palavra "Belém" tem um duplo significado: quer dizer "casa de pão," e "casa da guerra." Cristo não devia nascer na "casa do pão?" Ele é o pão de seu povo, de Quem recebe seu alimento. Como nossos pais comeram o maná no deserto, assim nós vivemos de Cristo aqui embaixo. Famintos frente ao mundo, não podemos alimentar-nos de suas sombras, pois eles são porcos; já nós precisamos de algo mais substancial, e nesse pão do céu, feito do corpo ferido de nosso Senhor Jesus, e cozido no forno de Suas agonias, encontramos um bendito alimento. Não existe alimento como Jesus para a alma desesperada ou para o mais forte dos santos. O mais humilde da família de Deus, vá a Belém por seu pão – e o homem mais forte, que come sólidos alimentos, vá a Belém por eles.

Casa do Pão! De onde poderia vir nosso alimento fora de Ti? Temos provado ao Sinai, porem em seus picos afiados não crescem frutos, e suas alturas espinhosas não produzem o trigo que possa alimentar-nos. Fomos ao próprio Tabor, onde Cristo foi transfigurado, e, no entanto, ali não fomos capazes de comer Sua carne e beber Seu sangue.

Porem, você, Belém, casa de pão, corretamente foi nomeada – pois ali se lhe deu ao homem pela primeira vez o pão da vida. E também é chamada "a casa da guerra;" porque Cristo é para os homens "casa do pão", ou do contrário, "casa da guerra." Enquanto Ele é alimento para o justo, faz guerra ao ímpio, segundo Sua própria palavra: "Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares." ( Mateus10:34-36)

Pecador! Se não conheces Belém como "a casa do pão", então ela será para ti uma "casa de guerra." Se nunca bebes o doce mel dos lábios de Jesus – se não és como a abelha que sorve do delicioso e doce licor da Rosa de Saron, então, dessa mesma boca sairá uma espada de dois gumes contra ti – e essa mesma boca da quão os justos sacam seu pão, será para ti a boca da destruição e a causa de teu mal.

Jesus de Belém, casa de pão e casa de guerra, nós confiamos em que lhe conhecemos como nosso pão. Oh, que alguns que não estão em guerra Contigo possam ouvir em seus corações, assim como em seus ouvidos, o hino:

"Paz na terra, e indulgente
Misericórdia;
Deus e os pecadores reconciliados."

Agora, vamos nos referir a essa palavra: "Efrata". Esse era o antigo nome do lugar, que os judeus conservavam e amavam. Seu significado é "Fecundidade" ou "abundância" Ah! Que adequado foi que Jesus nascera na casa da fecundidade – pois, de onde vem minha fertilidade e sua fertilidade, meu irmão, senão de Belém? Nossos pobres corações infrutíferos nunca produziram nenhum fruto, nenhuma flor, até que foram regados com o sangue do Salvador.

É a sua encarnação que enriquece o solo de nossos corações. Por toda terra havia espinhas salientes, e venenos mortais, antes que Ele viesse – porem nossa fertilidade vem Dele. "Sou como a faia verde; de mim é achado o teu fruto." (Oséias 14:8) "todas as minhas fontes estão em ti." (Salmo 87:7) Se nós somos como arvores plantadas junto à corretes de águas, dando fruto na estação própria, não é porque tenhamos sido naturalmente frutíferos, mas antes, por causa das correntes de águas juntos as quais fomos plantados.

Jesus é que nos faz fecundos. "Quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto" (João 15:5) Gloriosa Belém Efrata! Bem nomeada! Fértil casa de pão – a casa de abundante provisão para o povo de Deus! 

3) Continuando, notemos a posição de Belém. É dito que é "pequena para estar entre as famílias de Judá." Por que é dito isso? Porque Jesus Cristo sempre vai em meio dos pequenos. Ele nasceu na pequena aldeia "para estar entre as famílias de Judá." Não na alta colina de Basã, nem no monte real de Hebron, nem nos palácios de Jerusalém, mas sim na humilde, porem ilustre, aldeia de Belém.

Há uma passagem em Zacarias que nos ensina uma lição: diz que um varão que cavalgava sobre um cavalo vermelho, estava entre as murtas que estavam na baixada. (Zacarias 1:8-10) Agora, as murtas crescem nas baixadas – e o homem cavalga seu cavalo sempre trota ali. Ele não vai por cima da montanha – Ele cavalga entre os humildes de coração. "Olharei, para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra." (Isaías 66:2)

Há alguns pequenos entre nós hoje: "pequena para se achar entre os milhares de Judá." Ninguém escutou antes o nome de vocês, não é verdade? Se os enterram e escrevem seus nomes em suas tumbas, passariam despercebidos. Os que passassem ali diriam: "esse não significa nada para mim: nunca o conheci."

Não sabe muito de si próprio, nem possui uma grande opinião sobre você mesmo – talvez a duras penas possa ler. Ou, se têm algumas habilidades e talentos, é desprezado pelos homens – ou, se não é depreciado por eles, você se despreza a si próprio. É um dos pequenos. Bem, Cristo sempre nasce em Belém entre os pequeninos. Cristo nunca entra nos grandes corações – Cristo não habita nos grandes corações, mas nos pequeninos. Os espíritos poderosos e orgulhosos nunca têm a Jesus Cristo, pois Ele entra por portas baixas, e nunca entrará por portas altas e elevadas.

Quem tem um coração quebrantado, e um espírito humilhado, terá ao Salvador, e ninguém mais. Ele não cura nem ao príncipe nem ao rei, mas sim, mas "ele sara aos quebrantados de coração e ata-lhes suas feridas" (Salmo 147:3). Que doce pensamento! Ele é o Cristo dos pequeninos. "E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel."

Não podemos abandonar esse ponto sem outro pensamento aqui, quão maravilhosamente misteriosa foi essa providência que trouxe a mãe de Jesus Cristo para Belém, no mesmo momento que ia dar a luz! Seus pais moravam em Nazaré – e com que motivo teriam desejado viajar nessa hora? Naturalmente, teriam ficado em casa – não é nada provável que sua mãe teria feito uma viagem a Belém encontrando-se nessa condição especial. Porem, Augusto César promulga um edito que todo o mundo deve ser recenseado. Muito bem, então que sejam recenseados em Nazaré. Não – agradou a Ele que todos deveriam ir para Sua cidade. Mas, por que Augusto pensou nisso precisamente nesse momento em especial? Simplesmente porque enquanto o homem pensa seu caminho, o coração do rei está nas mãos do SENHOR. (Provérbios 21:1)

Mil variáveis se relacionaram entre si, como diz o mundo, para produzir esse evento! Antes de tudo, César tem uma disputa com Herodes – certo alguém da família de Herodes foi deposto. César diz: "Vou impor impostos à Judéia, e vou convertê-la em uma província, em vez de manter-la um reino separado." Pois bem, tinha que se fazer assim. Mas, quando isso deve ser feito? Essa lei impositiva, se diz, começou quando Cirino era governador da Síria. Porem, por que deve ser levada a cabo nesse exato momento, suponhamos, que em Dezembro? Por que não foi feito no mês de Outubro? E, por que o povo não poderia ser recenseado no local onde residia? Não era seu dinheiro tão bom ai onde se vivia como em qualquer outro lugar? Era um capricho de César; porem era o decreto de Deus.

Oh, nós amamos a sublime doutrina da absoluta predestinação eterna. Alguns têm duvidado que seja consistente com o livre-arbítrio do homem. Bem sabemos que é assim e nunca vimos nenhuma dificuldade no assunto – cremos que os filósofos metafísicos são os que têm criado as dificuldades – nós não enxergamos nenhum problema. Corresponde-nos crer que o homem faz o que lhe bem parece, mas, no entanto, "para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra." (Romanos 9:17) O homem faz o que quer – mas Deus também faz com que o homem faça o que Ele quer. E mais, não só a vontade do homem está debaixo da absoluta predestinação do SENHOR, antes, todas as coisas, grandes ou pequenas, são Dele. Bem disse o bom poeta: "sem dúvida, o navegar de uma nuvem tem a Providência como seu piloto; sem dúvida a raiz de um carvalho é encaroçada devido a um especial propósito, Deus rodeia todas as coisas, cobrindo o globo terrestre como o ar." Não existe nada grande ou pequeno, que não seja Dele.

O pó do verão move-se em sua rota, guiado pela mesma mão que dispersa às estrelas pela extensão do céu – as gotas de orvalho têm seu Pai, e cobrem a pétala da rosa conforme Deus o ordena; sim, as folhas secas do bosque, quando são esparramadas pela tormenta, têm uma posição assinalada de onde devem cair, e não podem modificar ela. No que é grande e no pequeno, Deus ali está: Deus em tudo, fazendo todas as coisas de acordo ao conselho de Sua própria vontade; e ainda que o homem busque ir contra seu Criador, ele não pode tal coisa.

Deus tem colocado um limite ao mar com uma barreira de areia; e se o mar levanta uma onda trás outra, no entanto, não excederá seu limite assinalado. Tudo é de Deus; e a Ele, que guia as estrelas e dá asas aos pardais, que governa os planetas e também move os átomos, que fala trovões e sussurra brisas, a Ele seja a glória, pois Deus está em cada coisa.

III. Isso nos leva ao terceiro ponto: PARA QUE VEIO JESUS? Ele veio para ser "governador em Israel." É algo muito singular que se dissera de Jesus Cristo que era "nascido o rei dos judeus." Poucos alguma vez "nasceram reis." Alguns homens nascem como príncipes, mas é coisa rara nascerem como reis. Não creio que se encontre algum caso na história onde um menino tenha nascido rei. Nasceu como Príncipe de Gales, talvez, e teve que esperar anos, até que seu pai morresse, e então fizessem do herdeiro rei, pondo uma coroa na sua cabeça, e uma crisma sagrada, e outras estranhas coisas desse tipo; mas não nasceu rei. Não recordo de ninguém que tenha nascido rei, exceto Jesus – e existe um significado enfático nesse verso que cantamos:

"Nascido para libertar Teu povo;
Nascido menino, mas, no entanto, rei"

No instante que veio à terra Ele era um rei. Não teve que esperar sua maioridade para poder assumir Seu império – mas tão pronto como Seu olho saudou a luz do sol, era rei – desde o instante que Sua pequeninas mãos tomaram alguma coisa, tomaram um cetro; logo que seu pulso pulsou, e Seu sangue começou a fluir, seu coração bradou com batidas reais, e seu pulso pulsou com uma medida imperial, e seu sangue fluiu em uma corrente de realeza. Ele nasceu rei. Veio para "governar em Israel." "Ah!" dirá alguém, "então veio em vão, pois exerceu muito pouco seu governo, pois 'Veio para o que era seu, e os seus não o receberam,'(João 1:11) veio a Israel mas não foi seu Rei, antes foi mais bem 'desprezado, e o mais rejeitado entre os homens' ( Isaias 53:3) rejeitado por todos eles, e abandonado por Israel, por quem veio."

Ai, mas "nem todos os que são de Israel são israelitas;" (Romanos 9:6), nem tampouco porque sejam da semente de Abraão são todos também chamados. Ah, não! Ele não é Senhor de Israel segundo a carne, antes que, é Senhor de Israel segundo o espírito. Muitos lhe obedeceram em seu caráter de Senhor. Por acaso os apóstolos não se inclinaram diante Ele, e lhe reconheceram como rei? E agora, Israel não o saúda como seu Senhor? Acaso toda a semente de Abraão segundo o espírito, todos os crentes, pois ele é o "pai dos crentes," não reconhecem que a Cristo pertencem os escudos dos poderosos, pois Ele é o Rei de toda a terra? Não governa em Israel? Ai sim, Ele verdadeiramente reina; e aqueles que não são governados por Cristo não são de Israel. Ele veio para ser Senhor de Israel.

Meu irmão, já se submeteu ao governo de Jesus? É Senhor de seu coração, ou não? Podemos conhecer a Israel por isso: Cristo veio a seus corações, para ser Senhor deles. "Oh" dirá alguém, "faço o que me dá na telha, nunca estive debaixo da servidão de ninguém." Ah! Então você odeia ao senhorio de Cristo. "Oh", dirá outro, "me submeto a meu ministro, a meu clérigo, a meu sacerdote, e penso que o que me diz é suficiente, pois ele é meu senhor." É assim? Ah! Pobre escravo, não conhece sua dignidade; pois ninguém é seu senhor legal senão o Senhor Jesus Cristo. "Ai," diz outro, "professei Sua religião, e sou Seu seguidor." Mas, governa Ele em seu coração? Tem Ele o comando de seu coração? Ele guia seu juízo? Você busca em Sua mão o conselho quando prova dificuldades? Está desejoso de honra-Lhe, e colocar coroas sobre Sua cabeça? Ele é seu Senhor? Se for assim, então você é um dos de Israel; pois está escrito: "governará em Israel."

Bendito Senhor Jesus! Tu és Senhor nos corações dos que são Teu povo, e sempre o serás; não queremos outro senhor, salvo a Ti, e não nos submetemos a ninguém mais, alem de Ti. Somos livres, posto que somos servos de Cristo; estamos em liberdade, já que Ele é nosso Senhor, e não conhecemos nenhuma servidão nem alguma escravidão, porque somente Jesus Cristo é o monarca de nossos corações. Ele veio para ser "Senhor em Israel;" e atente bem, essa Sua missão não está, todavia, terminada, e não o estará até as glórias futuras. Dentre de pouco verão Cristo vir de novo, para ser Senhor sobre Seu povo Israel, e governar sobre eles, não somente como o Israel espiritual, mas também como o Israel natural, pois os judeus serão restaurados a sua terra, e as tribos de Jacó cantarão nas naves de seu templo; a Deus serão oferecidos novamente hinos hebreus de louvor, e o coração do judeu incrédulo será derretido aos pés do verdadeiro Messias.

Em breve, Aquele que em Seu nascimento foi saudado como rei dos judeus por certos orientais, e de Quem em Sua morte um ocidental escreveu "Rei dos Judeus", será chamado rei dos judeus em todas as partes; sim, Rei dos judeus e também dos gentios; nessa monarquia universal, cujo domínio se estenderá por todo o globo da Terra, e cuja duração será sem tempo. Ele veio para ser Senhor em Israel, e com toda certeza será Senhor, quando reine gloriosamente em Seu povo, com todos seus antepassados.

IV. E agora, o ultimo ponto é, JESUS CRISTO JÁ VEIO ALGUMA VEZ ANTES? Respondemos que sim, pois nosso texto diz: "... e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." (Miquéias 5:2)

Primeiro ponto, Cristo teve Suas saídas em Sua divindade. "desde os dias da eternidade." Ele não tinha sido uma pessoa secreta e silenciosa até esse momento. Esse menino recém-nascido fez maravilhas desde muito tempo antes; esse bebê dormindo nos braços de Sua mãe, hoje é bebê, mas é o Ancião da eternidade; esse menino que está ali não fez Sua primeira aparição no cenário desse mundo; Seu nome, todavia, não tinha sido escrito no registro dos circuncidados; porem, ainda que não o saibas, as "saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade."

1) Desde tempos antigos, Ele saiu como nossa cabeça do pacto na eleição, "nos elegeu nele antes da fundação do mundo" ( Efésio 1:4)

"Cristo seja Meu primeiro eleito, disse,
E logo elegeu nossas almas em Cristo
nossa Cabeça"

2) Ele saiu por Seu povo, como seu representante diante do trono, ainda antes que esse povo fosse gerado no mundo. Foi desde a eternidade que Seus poderosos dedos tomaram a pluma, e a caneta das eras, e escreveram Seu próprio nome, o nome do eterno Filho de Deus – foi desde a eternidade que firmou o pacto com seu Pai, no qual pagaria sangue por sangue, ferida por ferida, sofrimento por sofrimento, agonia por agonia, e morte por morte, em favor de Seu povo – foi desde a eternidade que Ele se entregou a Si mesmo, sem murmurar uma palavra, que desde Sua cabeça até a planta dos Seus pés suaria sangue, que seria cuspido, transpassado, burlado, seria partido em dois, sofreria a dor da morte, e as agonias da cruz. Suas saídas como nossa garantia foram desde a eternidade.

Faça uma pausa, alma, e assombre-se! Você teve saídas na pessoa de Jesus desde a eternidade. Não somente quando nasceu nesse mundo que Cristo lhe amou, porem, Seus deleites estavam com os filhos dos homens desde antes que houvesse filhos dos homens. Frequentemente pensava neles – de eternidade a eternidade Ele tinha posto Seu afeto neles. Como então, crente, Ele esteve envolvido em sua salvação desde muito tempo atrás, e não vai alcançar-la? Desde a eternidade Ele saiu para salvar-me, e vai me perder agora? Como? Tem-me em Sua mão, como Sua jóia preciosa, e deixará que resvale em meio de Seus preciosos dedos? Elegeu-me antes que as montanhas fossem colocadas, ou que os canais das profundezas fossem esculpidos, e agora me perderá? Impossível!

"Meu nome das palmas de Suas mãos
A eternidade não pode apagar;
Gravado em Seu coração permanece
Com marcas de graça inapagáveis"

Estou seguro que não me amaria durante tanto tempo, para logo após deixar de fazê-lo. Se tivesse a intenção de se cansar de mim, já o teria feito há muito. Se não tivesse me amado com um amor tão profundo como o inferno e tão inexpressável como a tumba, se não tivesse dado todo Seu coração, estou seguro que já teria me abandonado há muito! Ele sabia o que eu seria, e Ele teve muito tempo para considerar isso; mas eu sou Seu eleito, e isso é definitivo. E, apesar de indigno como sou, não me é dado resmungar, se Ele está contente comigo. Porem, Ele está contente comigo: deve estar satisfeito comigo – pois Ele me conheceu o suficiente para conhecer minhas falhas. Ele me conheceu antes que eu me conhecera - sim, Ele me conheceu antes que eu existisse. Antes que meus membros fossem formados, foram escritos em Seu livro: "Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia." (Salmos 139:16) Seus olhos de afeto focaram nesses membros. Ele sabia quanto mal eu ia me portar com Ele, e no entanto tem seguido amando-me:

"Seu amor de tempos passados me impede
de pensar,
Que me deixará ao fim em problemas que me
afoguem."

Não – já que "suas saídas são desde o principio, desde os dias da eternidade," serão "até a eternidade."

Em segundo lugar, cremos que Cristo tem saído desde tempos remotos aos homens, de tal forma que os homens o viram. Não me deterei para dizer-lhes que foi Jesus Quem passeava no jardim do Éden, ao ar livre, pois Seus deleites estavam com os filhos dos homens – nem vou me demorar assinalando-lhes todas as diversas maneiras em que Cristo saiu em Seu povo na forma de anjo da aliança, o Cordeiro pascal, a serpente de bronze, a sarça ardente, e outros dez mil tipos com os quais a história sagrada está tão repleta – porem, prefiro mostrar-lhes quatro ocasiões especificas quando Jesus Cristo nosso Senhor apareceu na terra como um homem, antes de Sua grandiosa encarnação para nossa salvação.

E, primeiro, rogo que vamos ao capitulo 18 de Genesis, onde Jesus Cristo apareceu a Abraão, de quem lemos:

"Depois apareceu-lhe o SENHOR nos carvalhais de Manre, estando ele assentado à porta da tenda, no calor do dia. E levantou os seus olhos, e olhou, e eis três homens em pé junto a ele. E vendo-os, correu da porta da tenda ao seu encontro e inclinou-se à terra, E disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo." ( Genesis 18: 1-3) 

Porem, ante quem se inclinou? Disse: "Senhor" só a um deles. Havia um homem no meio deles mais eminente devido Sua glória, pois se tratava do Deus-homem Cristo – os outros dois eram anjos criados, que tinha assumido a aparência de homens temporariamente. Mas esse era o homem Jesus: "E disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo. Que se traga já um pouco de água, e lavai os vossos pés, e recostai-vos debaixo desta árvore;" (Genesis 18:3-4) Notaram que esse homem majestoso, essa pessoa gloriosa, se deteve para falar com Abraão? No versículo 22, é dito: "Então viraram aqueles homens os rostos dali, e foram-se para Sodoma; mas Abraão ficou ainda em pé diante da face do SENHOR." Observaram que esse homem, o Senhor, manteve uma doce comunhão com Abraão, e permitiu-lhe interceder pela cidade que estava a ponto de destruir. Estava positivamente como um homem. De tal forma que quando caminhou nas ruas da Judéia, não era primeira vez que era um homem – já o tinha sido antes, "nos carvalhais de Manre... no calor do dia."

Há outro exemplo – sua aparição a Jacó, que temos registrada no capítulo 32 de Genesis, no versículo 24. Toda sua família tinha partido: "Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste." ( Genesis 32:24-28) Esse era um homem, e, no entanto, era Deus. "pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste."E Jacó sabia que esse homem era Deus, pois disse no versículo 30: "Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva."

Encontrarão outro exemplo no livro de Josué. Quando Josué atravessou a baixa corrente do Jordão, e entrou na terra prometida, e estava a ponto de tirar fora os cananeus, veja só, esse poderoso homem-Deus apareceu a ele! No capítulo 5, no versículo 13, lemos: "E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos? E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do SENHOR." E Josué viu imediatamente que havia divindade Nele, pois "se prostrou com o seu rosto em terra e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo?". Agora, se esse tal tivesse sido um anjo criado, teria repreendido Josué, dizendo: "sou um servo como tu." Mas não – "disse o príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." (Gênesis 5:15)

Outro exemplo notável é o que está registrado no terceiro capítulo do Livro de Daniel, onde lemos a história quando Sadraque, Mesaque e Abednego são lançados no meio de um forno de fogo ardente, e como o tinham aquecido mais ainda, e como a chama do fogo matou os que a tinham acalentado. Subitamente, o rei perguntou aos de seus conselheiros: "Não lançamos nós, dentro do fogo, três homens atados? Responderam e disseram ao rei: É verdade, ó rei. Respondeu, dizendo: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem sofrer nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante ao Filho de Deus." (Daniel 3:24-25) Como Nabucodonosor poderia saber isso? Só porque tinha algo de tão nobre e majestoso na forma em que esse maravilhoso Homem se comportava, e uma terrível influência o circundava que maravilhosamente quebrou os dentes consumidores dessa chama devoradora e destruidora, de tal forma que nem mesmo podia chamuscar os filhos de Deus. Nabucodonosor reconheceu Sua humanidade. Não disse: "vejo a três homens e a um anjo", mas sim disse: "vejo realmente quatro homens, e a forma do quarto é como ao Filho de Deus" Vem, então, o que significa que Suas saídas são "desde os dias da eternidade."

Observem aqui por um momento, que cada uma dessas quatros ocorrências sucederam as santos quando eles estavam envolvidos em deveres muito eminentes, ou quando estavam a ponto de se envolver neles. Jesus Cristo não aparece a Seus santos cada dia. Ele não veio ver Jacó até que não esteve em aflição – Ele não visitou Josué antes que estivesse a ponto de se meter em uma guerra santa. Somente em condições extraordinárias que Cristo assim e manifesta a Seu povo

Quando Abraão intercedeu por Sodoma, Jesus estava com ele, pois um dos empregos mais elevados e mais nobres de um cristão é esse da intercessão, e é quando ele está ocupado dessa maneira que terá a probabilidade de obter uma visão de Cristo. Jacó estava envolvido em lutar, e essa é uma parte do dever de um cristão, que alguns de vocês nunca experimentaram – consequentemente, vocês não tem muitas visitas de Jesus. Foi quando Josué estava exercitando a valentia que o Senhor se encontrou com ele. O mesmo foi com Sadraque, Mesaque e Abednego – eles encontravam-se nos lugares altos da perseguição devido o apego ao dever, quando Ele veio a eles, e lhes disse: "estarei com vocês, passando através do fogo."

Há certos lugares especiais nos quais devemos entrar, para encontrarmos com o Senhor. Devemos estar em grandes problemas, como Jacó; devemos estar em meio de grandes trabalhos, como Josué; devemos ter uma grande fé de intercessão como Abraão; devemos estar firmes no desempenho de um dever, como Sadraque, Mesaque e Abednego – do contrário, não O conheceremos, "cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade." Ou, se O conhecemos, não seremos capazes de "compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade." (Efésios 3:18)

Doce Senhor Jesus! Tu, cujas saídas foram desde o inicio, desde os dias da eternidade, Tu que, todavia, não abandonou Tuas saídas. Oh, que saísses hoje para animar ao desmaiado, para ajudar o cansado, para sarar nossas feridas, para consolar nossas aflições! Saí, lhe suplicamos, para conquistar os pecadores, para subjugar corações endurecidos, para romper as portas de ferro de seus pecados e fazer delas pedaços! Oh, Jesus! Sai; e quando saias, vem a mim! Sou um pecador endurecido? Vem a mim; eu necessito de Ti:

"Oh, que Tua graça subjugue meu coração;
Quer ser levado triunfante também;
Um cativo voluntário de meu Senhor,
Para cantar as honras de Tua palavra!"

Pobre pecador! Cristo não tem deixado de sair. E quando sai, lembre, vai a Belém. Você tem um Belém em seu coração? É pequeno? Então Ele sairá para você. Vá para casa e busque-lhe por meio de uma oração sincera. Se tiver sido levado a chorar por causa do pecado, e sente-se muito pequenino para que te vejam, vá a casa, pequeno! Jesus vem aos pequenos; suas saídas são desde o princípio, e Ele está saindo agora. Ele virá a sua velha e pobre casa – Ele virá a teu pobre coração infeliz – Ele virá, ainda que estejas na pobreza, e coberto de farrapos; ainda que estejas desamparado, atormentado e aflito – Ele virá, pois Suas saídas tem sido desde o principio, desde os dias da eternidade. Confia Nele, confia Nele, confia Nele; e ele sairá e habitará em teu coração por toda a eternidade.

__________________
Traduzido do espanhol, do sermão "La Encarnación y el Nacimiento de Cristo.", traduzido por Allan Román, com autorização deste para português pelo Projeto
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 57—Volume 2
Tradução: Armando Marcos Pinto

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PL 122 - DIGA NÃO! (*Vale apena ler!)



Projeto de Lei 122/2006: Inconstitucional, ilegítimo e heterofóbico!


“A Constituição Federal assegura que a simples expressão de condenação moral, filosófica ou religiosa ao homossexualismo não se constitui em discriminação, mas em constitucional, legítimo e legal exercício da liberdade de manifestação do pensamento, consciência e crença religiosa.”

Por que o Projeto de Lei 122/2006 é inconstitucional? É inconstitucional porque a Constituição Federal estabelece, no art. 5º, como direito e garantia fundamental, que, primeiramente, “homens” e “mulheres” são iguais em direitos e obrigações, de modo que a Constituição não reconhece um terceiro gênero: o homossexual E, se assim o é, como um projeto de lei ordinária pode tentar estabelecer super-direitos e a impossibilidade absoluta de crítica a um grupo de pessoas que, enquanto homossexuais, nem reconhecidos são pela Constituição? Para a Magna Carta, queiram eles ou não, estes são homens ou mulheres. Esse foi e, continua sendo, o espírito do legislador constitucional e do poder constituinte originário que o fundamenta. Apesar de a Constituição dever ser interpretada como um texto aberto, há balizas interpretativas que são estabelecidas de modo fundacional e, portanto, não podem ser superadas sem a alteração do texto.
Ademais, como já explicamos e enfatizamos nos ensaios anteriores, o texto constitucional é de uma clareza límpida ao assentir que é livre a manifestação do pensamento, que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando-se para isso o livre exercício dos cultos religiosos e, mais que isso, contundentemente, afirma: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica”. E num Estado Democrático de Direito, onde os direitos sejam, material e formalmente, democratizados, o bem maior a ser assegurado é a liberdade, conquistada, historicamente, através de sangue, suor e lágrimas pela sociedade brasileira. O projeto que está aí vai, frontalmente, de encontro a liberdade que nós temos de expor idéias e opiniões. Por tudo isso, é, flagrante e materialmente, inconstitucional.

Por que o Projeto de Lei 122/2006 é ilegítimo? Diz-se que uma lei é legítima, quando esta é a expressão jurídica dos anseios, valores e vontade da sociedade. A questão é: de acordo com o que vimos sobre os artigos do projeto, estes se coadunam com a vontade da sociedade? Isto é, a sociedade brasileira quer, realmente, possibilitar o aprisionamento de padres, pastores, monges (e etc.) simplesmente pelo fato de que eles, a partir da Bíblia, pregam em seus sermões e homilias que o homossexualismo é “abominação perante Deus” e “negação da criação e do Criador, porque querem desvirtuar a natureza – corpo, alma e espírito – do ser humano”? Claro que não!

Segundo nos aponta o último censo do IBGE, mais de 90% da sociedade brasileira é católica ou evangélica. Que legitimidade tem esse projeto, então? Temos a convicção de que os olhos da sociedade brasileira, neste momento, estão voltados à iminente votação no Plenário do Senado Federal. Se não há legitimidade, em absoluto, temos a certeza de que também não haveria eficácia social ou efetividade se este projeto fosse aprovado. A não ser que se estabelecesse uma nova ditadura no Brasil (o que não é pouco provável, tendo em vista os acontecimentos políticos que temos visto).

Por que o Projeto de Lei 122/2006 é (i)moral? Moral é o conjunto de usos e costumes de uma sociedade. O conjunto de valores e ações que, no geral, a sociedade acredita ser o seu bem, o seu belo e a sua verdade – o “mores maiorum civitatis” da cultura helenística. Ora, o Projeto de Lei 122 vai, essencialmente, de encontro àquilo que constitui a Moral da sociedade brasileira que, como afirmamos, é quase no todo, de uma tradição judaico-cristã. Por assim o ser, este projeto nega tudo aquilo que corresponde aos anseios, usos e costumes da nossa sociedade. E por isso é imoral, isto é, nega a moral da nossa sociedade. Dentro da nossa tradição moral, não há espaço para discriminação, nem preconceito. Do mesmo modo, não há espaço para tolhimento da liberdade de expressão, de convicção e de crença. A nossa moral nos diz que podemos ser aquilo que quisermos ser, assim como também que todos têm o direito de se posicionar e manifestar-se sobre esse ser ou não ser. E essa é a Moral que foi inserta no nosso sistema jurídico.

Por que o Projeto de Lei 122/2006 é totalitário? É totalitário, porque estabelece para toda a sociedade, para todas as instituições e para todas as pessoas o que se começa a denominar “Mordaça Gay”. Acredito que nem seja esse o desejo dos homossexuais. O projeto, absurdamente, torna criminosa, sem valoração distintiva, toda e qualquer manifestação contrária às práticas homossexuais. É o estabelecimento de uma imunidade comportamental jamais vista, em tempos de democracia, na história do direito brasileiro. O discurso é envolvente, mas falacioso. Fala-se em proteção dos direitos humanos, mas na realidade o que se está a estabelecer é a imposição de um modo de existência.

Por que o Projeto de Lei 122/2006 é heterofóbico? Simplesmente, porque os homens e mulheres da sociedade brasileira é que passarão a ter medo de se relacionar com os homossexuais. Porque tudo que se fizer ou falar, pode ser interpretado como homofobia e sujeitará as pessoas a penas de prisão. A cultura do medo restará implantada entre os heterossexuais. Os homens e mulheres da nação estarão sob a mira do aparato policial e do sistema prisional. Isso dá ou não “fobia” (medo)?

Se usam de violência contra os homossexuais que se use o Direito como está posto para todos indistintamente. Numa democracia não há espaço para privilégios legais para um grupo de pessoas que já tem as mesmas armas e faculdades jurídicas para se defender dos abusos que possam ser cometidos contra eles.

Artigo: Uziel Santana - Advogado
Mestre em Direito – UFPE.
Professor da UFS
 
Vote Contra A Lei PL 122/06 – Faça parte dessa Luta!


Acesse o Site do SENADO FEDERAL, aí basta escolher os três Senadores do seu Estado e enviar sua mensagem contra a PL 122.


Fonte: Adaptação - Fernando T.
AddThis